segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Cardo tem potencial para tratar dois tipos de cancro fatal

O cardo, planta usada, por exemplo, no queijo da serra, tem potenciais propriedades anti-tumorais que poderão prevenir e tratar dois tipos de cancro, um da mama e outro do fígado, pouco frequentes mas fatais, defendem cientistas.


- Cardo marinho -


Este é um dos resultados de uma linha de investigação sobre o potencial anti-tumoral dos extractos do cardo seguida por cientistas do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Baixo Alentejo e Litoral (CEBAL), situado em Beja.

A equipa, liderada por Fátima Duarte, estuda desde 2008 o potencial do cardo para prevenir e tratar doenças, nomeadamente os dois tipos de cancro.

Estudos e a medicina popular, através do uso do cardo em mezinhas, como infusões para tratar problemas digestivos, indicavam que a planta "poderia ter compostos muito interessantes" a nível fitoterapêutico (uso de compostos naturais para prevenir e tratar doenças), explicou à Lusa Fátima Duarte.

Os cientistas dividiram o cardo em partes para obter extractos naturais de cada uma e têm percebido que o extracto da folha "parece ser o mais activo ou o que tem mais potencialidade fitoterapêutica".

"Neste momento não posso dizer que o extracto da folha consegue ser um tratamento eficaz", mas, através de ensaios 'in vitro', com recurso a um modelo de um tipo de cancro da mama, o fenótipo triplo-negativo, o trabalho tem mostrado que "conseguimos bloquear o crescimento das células tumorais" quando são incubadas com o extracto da folha do cardo, disse.

Aquele tipo de cancro da mama é pouco frequente, mas quase 100% dos casos são fatais, já que as terapias existentes são "pouco eficientes", disse a especialista, referindo que a equipa está também a trabalhar com um modelo de um tipo de cancro do fígado, o hepatocarcinoma humano, também fatal.

A responsável explicou que o extracto da folha do cardo parece ser mais eficaz no tipo de cancro da mama do que no do fígado, mas neste "também tem actividade e os resultados também são muito promissores".

"Se calhar estamos a lidar com um composto ou vários compostos que têm propriedades anti-tumorais, mais do que propriedades anti-tumorais específicas do cancro da mama", admitiu, frisando que as respostas podem ser esclarecidas com ensaios 'in vivo' em ratinhos.

O extracto da folha "consegue bloquear e reduzir muito significativamente a proliferação das células tumorais", mas, antes de avançar para eventuais ensaios "in vivo", a equipa tem que percorrer vários passos.

A equipa está a iniciar a identificação e a caracterização química dos compostos do extracto da folha do cardo, para saber qual é o composto ou quais são os compostos com potencial anti-tumoral, disse, frisando que talvez "não se trata de um composto, mas de uma sinergia entre compostos".

Por outro lado, a equipa vai tentar perceber se o extracto "consegue influenciar a mobilidade das células tumorais", porque um tumor tem o "poder" de desenvolver metástases.

A evolução da investigação, financiada por fundos comunitários, vai depender de financiamento, mas, se continuar ao ritmo actual, dentro de quatro a cinco anos a equipa deverá ter informação suficiente para avançar com os ensaios 'in vivo' ou já terá desistido, se tiver percebido que o extracto não tem actividade que justifique tais ensaios, estimou.


in JN online, 03-10-2011

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