segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Daqui a 10 anos metade dos portugueses vai ter cancro


«O investigador Sobrinho Simões disse, esta segunda-feira, que "daqui a 10 anos, um em cada dois portugueses" terá pelo menos um cancro, o que o leva a acreditar que "não vai faltar dinheiro para a investigação nesta área".

 
 
- Sobrinho Simões -
 
 
"A indústria farmacêutica sabe também que isto é uma área extraordinária do ponto de vista económico, porque se metade da população tem cancro e se os tratamentos não são baratos isso é um estímulo para eles. Portanto, eu acredito que vai haver dinheiro. Estou com medo, mas acredito", acrescentou o diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP).

Sobrinho Simões falava aos jornalistas no âmbito de um simpósio de lançamento da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro, afiliada à congénere europeia (EACR - European Association for Cancer Research).

Esta associação pretende "ocupar um espaço que estranhamente continua vazio em Portugal", o da coordenação da investigação multidisciplinar em cancro (Portugal é dos raros países europeus sem qualquer estrutura deste tipo).

No entanto, apesar de ser "a coisa mais importante que aconteceu em Portugal nos últimos anos em termos de investigação em cancro", Sobrinho Simões receia que "[a nova associação] não funcione".

"Nós, em Portugal, somos muito bons a fazer os eventos e depois não somos tão bons a manter e a sustentar. É um dia muito feliz, mas é uma responsabilidade horrorosa", admitiu o investigador, um dos responsáveis pela criação da nova associação.

"O nosso objetivo é que Portugal passe a ser um nó nas redes de investigação e tratamento, mas para isso é preciso que os dois mundos, que costumam estar separados, o da investigação fundamental e o da clínica, passem a trabalhar em conjunto", sustentou.

Sobrinho Simões disse ainda que "a saúde tem condições excecionais para reter em Portugal os investigadores", por considerar que "no domínio da investigação em saúde e em cancro, há condições tão boas para oferecer aos investigadores como qualquer país europeu da nossa dimensão".

A nova associação "vai funcionar a partir do próximo ano, com a criação de um 'site', a realização de reuniões regulares, levantamentos nacionais sobre o que existe e, depois, com a apresentação de propostas para começar a funcionar de maneira mais integrada com a Europa e entre nós", afirmou Leonor David, investigadora do IPATIMUP, que preside à comissão instaladora da associação.

A estrutura pretende, concretamente, desempenhar um papel central na articulação, nacional e internacional, das atividades de investigação em cancro, agregando quem trabalha nesta área independentemente da sua formação disciplinar e profissional.

Para além de constituir um ponto de encontro para os investigadores, a associação vai contribuir para o conhecimento e divulgação da investigação feita em Portugal, criando as condições para que a população e as agências públicas de financiamento científico e de prestação de cuidados de saúde, incorporem a necessidade de ter em Portugal investigação científica que informe as decisões políticas e assegure a difusão do conhecimento.»


in JN online, 29-10-2012

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Médico quebra mitos sobre a saúde

«Laranja é boa a qualquer hora do dia, café previne demências e doenças do fígado e é inútil beber dois litros de água por dia. Apenas algumas das falsas crenças sobre o que faz bem e faz mal arrasadas pela investigação científica. Saiba mais.

Uma das vertentes do Programa Harvard Medical School-Portugal, que resulta de uma parceria entre a Universidade norte-americana e escolas de Medicina e laboratórios portugueses, é a divulgação de informação na área da saúde relevante e validada cientificamente. O médico Vaz Carneiro expõe a verdade por detrás dos mitos.

Exercício sem dieta não emagrece

Fazer exercício físico sem um programa alimentar hipocalórico tem um "efeito negligenciável" em termos de perda de peso, garante o diretor do Programa Harvard Medical School-Portugal. Em estudos com adultos obesos que analisaram o efeito do exercício regular intenso e moderado verificou-se uma perda de peso muito discreta (entre 0,6 e 4,8 quilogramas aos 8 meses). No entanto, a composição do corpo melhorou, com diminuição do perímetro abdominal e das ancas. Ou seja, o exercício físico tem vários efeitos muito benéficos, como melhorar a silhueta, substituindo a gordura por massa muscular, e prevenir doenças cardiovasculares. Mas, para emagrecer, é preciso que seja acompanhado de uma dieta hipocalórica.

Não usamos apenas 10% das nossas funções cerebrais

Não se sabe a origem desta ideia nem como se chegou a tal percentagem, mas disseminou-se a ponto de assumir o estatuto de factoide científico, apesar de totalmente falha de sustentação. Se efetivamente só usássemos 10% do nosso encéfalo, o que estariam os outros 90% a fazer? As funções cerebrais são atividades complexas que implicam várias áreas e diversas estruturas. A memória, por exemplo, não reside num determinado ponto. As mais modernas técnicas de imagiologia demonstram que todo o cérebro está permanentemente em atividade, embora certas áreas possam estar mais ativadas em função da atividade que está a ser processada.

Comer laranja faz bem a qualquer hora do dia

É um daqueles mitos veiculados por um provérbio: "De manhã é oiro, à tarde prata e à noite mata". A crença de que o efeito da laranja pode variar de acordo com a hora em que é ingerida não tem qualquer fundamento científico. O médico António Vaz Carneiro garante que a laranja faz bem a qualquer hora, a não ser que haja algum tipo de intolerância e, nesse caso, prejudica a qualquer hora.

Tomar banho após refeição não provoca afogamento

Quem não se lembra de ter de esperar três horas, sob o sol inclemente da praia, para poder ir tomar banho? Tudo por causa do medo da congestão e afogamento. Afinal, não há uma associação entre estar a fazer a digestão e risco aumentado de afogamento. "Não parece haver qualquer problema entre comer e ir para a água", explica Vaz Carneiro. Os casos de afogamento podem explicar-se por diversos fatores - como não não se saber nadar, a ação de certos medicamentos, hipotermia devido à água muito fria e grandes diferenças entre a temperatura exterior e da água.

Beber dois litros de água por dia é inútil

Esta popular recomendação é acompanhada de justificações do género "temos de fazer funcionar os rins" e "limpar o nosso organismo". A verdade, porém, é que a água é uma daquelas substâncias que são estritamente reguladas pelo organismo: só se aproveita a que se necessita. Portanto, a água ingerida deve ser a suficiente para matar a sede. Mais: não só é inútil como pode ser perigoso, porque obriga os rins a trabalhar em excesso.

Café previne diabetes, demências e doenças do fígado

A má reputação de que o café goza, mesmo entre os profissionais, é uma injustiça que Vaz Carneiro está apostado em combater. Sendo uma das bebidas mais consumidas em todo o Mundo, foi objeto de 37 mil estudos, nas últimos 30 anos. As conclusões podem surpreender. Diz o professor da Faculdade de Medicina de Lisboa que os resultados "sugerem um efeito protetor do café na incidência da diabetes mellitus tipo 2, demência (Alzheimer ou não), doenças hepáticas (cirros e carcinoma hepatocelular) e doença de Parkinson". Mais: não existem provas que liguem o café ao cancro ou a um aumento do risco cardiovascular. Isto é válido para a população em geral e significa que os efeitos positivos aumentam proporcionalmente à quantidade ingerida, garante. Quem tiver sensibilidade aos componentes do café e ficar demasiado excitado com esta bebida, deve evitar.

Grávidas devem vacinar-se contra a gripe

É exatamente o contrário do que se diz. As grávidas devem vacinar-se porque quando infetadas pelo vírus da influenza (gripe) apresentam maior risco de complicações para a sua saúde e dos fetos. Sendo um grupo de risco, a vacina afigura-se como uma prática recomendável, assegura Vaz Carneiro, exceto em caso de alergia ou condição específica.

Suplementos vitamínicos anti-oxidantes não evitam cancro

A ingestão de suplementos antioxidantes não tem efeitos benéficos. "Se fizer uma dieta equilibrada não necessita destes suplementos vitamínicos que, no mínimo, são inúteis e, no máximo, prejudiciais", considera Vaz Carneiro. O reforço vitamínico para prevenção de certas doenças também é um mito que a investigação não apoia. A vitamina A não apresenta quaisquer benefícios na prevenção do cancro do cólon, do cancro da mama e no cancro em geral, apresentando mesmo um risco mais elevado de cancro do pulmão. Quanto à C, não existe evidência que previna o cancro ou doença cardiovascular. E a vitamina D é ineficiente a prevenir o cancro, a patologia cardíaca e a demência. Em resumo: é um mito sem sustentação, alimentado pela fácil disponibilização destes produtos, e que pode constituir um perigo para a saúde pública.»




in JN online, 02-5-2012

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Caminhar pode ajudar a tratar a depressão


«Uma atividade física simples, como um pequeno passeio a pé, pode ter efeitos importantes no tratamento da depressão, segundo afirmam investigadores da Escócia.

A depressão é uma doença que afeta cada vez mais pessoas por todo o mundo. Em estudos anteriores, o benefício da atividade física regular já tinha sido provado. No entanto, os efeitos da caminhada - atividade menos vigorosa em termos físicos - não eram ainda claros.

Um estudo publicado no jornal Mental Health and Physical Activity comprovou que caminhar tem um grande efeito sobre a depressão.

Os investigadores da Universidade de Stirling procuraram em 11 bases de dados por ensaios clínicos que referissem o caminhar como intervenção terapéutica para a depressão. A procura incidiu sobre o conteúdo desde a criação da base de dados até janeiro de 2012.

Dos mais de 14 mil artigos recuperados, oito preencheram os critérios de inclusão. Os estudos mostravam que andar a pé tem um efeito estatisticamente significativo no tratamento da depressão.

A caminhada é um tratamento promissor com poucas (se alguma), contra-indicações. No entanto, estão a ser desenvolvidas novas investigações para estabelecer a frequência, intensidade, duração e tipo de intervenções eficazes.

Uma em cada dez pessoas pode sofrer de depressão em alguma altura da vida. O tratamento é feito, essencialmente, com medicamentos. Contudo, os médicos aconselham o exercício físico no tratamento de sintomas leves.

Em declarações à BBC, o professor Adrian Taylor, que estuda os efeitos do exercício na depressão, toxicodependência e stress na Universidade de Exeter, explicou que "a beleza da caminhada é que toda a gente o faz".

A forma como o exercício beneficia estas condições depressivas não é ainda clara. Existem teorias que apontam o desporto como uma distração das preocupações, dando uma sensação de controlo e libertando hormonas "bem-dispostas".»



in JN online, 16-4-2012

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Cancro do intestino mata 11 portugueses por dia

«A comparticipação financeira da sedação nos hospitais para a realização das colonoscopias sem incómodo físico poderia aumentar este exame, o ideal no rastreio do cancro do intestino, que mata 11 portugueses por dia.

O cancro dos intestinos tem vindo a evoluir negativamente, já que todos os anos surgem sete mil novos casos.

Vítor Neves, presidente da Associação de Luta Contra o Cancro do Intestino (Europacolon), defende a comparticipação financeira da sedação das colonoscopias nos hospitais públicos pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) e também nos privados através das seguradoras.

O especialista adiantou à agência Lusa que "é fundamental" a realização de um rastreio nacional a esta doença e que todas as pessoas após os 50 anos deveriam ser chamadas a realizar exame através dos centros de saúde.

Vítor Neves compreende os constrangimentos económicos para a realização do exame ideal - a colonoscopia -, mas defende, em sua alternativa, o exame à presença de sangue oculto nas fezes que é um sinal de problemas.

Este responsável reconhece que, em virtude da falta de sensibilização e esclarecimento, a população receia a colonoscopia, que consiste na introdução de um tubo maleável através do intestino, através do qual o mesmo é observado em tempo real. O incómodo do exame é a principal justificação para as pessoas não o realizarem mais vezes.

A realização do rastreio permitia a identificação atempada deste cancro que todos os dias faz 11 mortos em Portugal.

No âmbito do Mês Europeu do Cancro Colo-Rectal, que se celebra em março, o presidente do Europacolon alerta: "Ao falhar no rastreio nacional, estamos a falhar na prevenção da doença. É obrigatória a sua implementação imediata e o rastreio a toda a população de risco, entre os 50 e 75 anos".»



in JN online, 29-02-2012