terça-feira, 4 de outubro de 2011

Herpes Zoster, "Cobreiro"


O que é?

O herpes zoster, popularmente conhecido como "cobreiro", é uma doença viral causada pelo Varicella-zoster virus, o mesmo vírus causador da varicela (catapora).

Após a varicela, algumas pessoas não desenvolvem imunidade total ao vírus, que permanece latente em gânglios próximos à coluna vertebral. Quando encontra condições de se desenvolver, o vírus reativa-se e chega à pele através dos nervos correspondentes ao gânglio.

Acomete homens e mulheres, sendo mais frequente na idade adulta e nos idosos. O surgimento do herpes zoster pode ser um indicativo de uma baixa da imunidade que pode ser decorrente de outras doenças ou devido ao estresse.





Manifestações clínicas

O herpes zoster é uma doença auto-limitada, tendo um ciclo evolutivo de cerca de 15 dias. Antes do surgimento das lesões na pele, ocorrem no local sintomas dolorosos ou parestésicos (formigamento, pontadas, "pele sensível" ou queimação) devido à inflamação do nervo.

No decorrer da doença os sintomas dolorosos podem se agravar tornando-se muitas vezes insuportáveis, principalmente quando atinge pessoas mais idosas. A dor melhora gradativamente mas, nas pessoas idosas, pode permanecer por meses ou anos após o final do quadro cutâneo, caracterizando a neuralgia pós-herpética.

As manifestações cutâneas iniciam-se por vesículas que podem confluir formando bolhas contendo líquido transparente ou ligeiramente amarelado, seguindo o trajeto de um nervo. Em alguns dias, as lesões secam e formam crostas que serão liberadas gradativamente deixando discretas manchas no local que tendem a desaparecer. As manifestações limitam-se a um lado do corpo, por onde passa o nervo atingido, sendo muito raro o acometimento bilateral.

Os nervos atingidos com maior frequência são os intercostais (entre as costelas), provocando manifestações no tronco, mas outros nervos podem ser afetados. Quando acomete os nervos cranianos, podem ocorrer sintomas referentes à eles, como úlceras da córnea, vertigem ou surdez.

Tratamento

O tratamento deve ser iniciado assim que se iniciarem os sintomas, visando evitar o dano irreparável ao nervo atingido que resultará na neuralgia pós-herpética. As lesões da pele tem involução espontânea mas medidas para evitar a infecção secundária devem ser tomadas.

Os medicamentos utilizados no tratamento do herpes zoster evoluíram muito, tornando-se mais eficazes, e devem ser indicados por um médico dermatologista de acordo com cada caso.


por Dr. Roberto Barbosa Lima - Dermatologista
in http://www.dermatologia.net/

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Cardo tem potencial para tratar dois tipos de cancro fatal

O cardo, planta usada, por exemplo, no queijo da serra, tem potenciais propriedades anti-tumorais que poderão prevenir e tratar dois tipos de cancro, um da mama e outro do fígado, pouco frequentes mas fatais, defendem cientistas.


- Cardo marinho -


Este é um dos resultados de uma linha de investigação sobre o potencial anti-tumoral dos extractos do cardo seguida por cientistas do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Baixo Alentejo e Litoral (CEBAL), situado em Beja.

A equipa, liderada por Fátima Duarte, estuda desde 2008 o potencial do cardo para prevenir e tratar doenças, nomeadamente os dois tipos de cancro.

Estudos e a medicina popular, através do uso do cardo em mezinhas, como infusões para tratar problemas digestivos, indicavam que a planta "poderia ter compostos muito interessantes" a nível fitoterapêutico (uso de compostos naturais para prevenir e tratar doenças), explicou à Lusa Fátima Duarte.

Os cientistas dividiram o cardo em partes para obter extractos naturais de cada uma e têm percebido que o extracto da folha "parece ser o mais activo ou o que tem mais potencialidade fitoterapêutica".

"Neste momento não posso dizer que o extracto da folha consegue ser um tratamento eficaz", mas, através de ensaios 'in vitro', com recurso a um modelo de um tipo de cancro da mama, o fenótipo triplo-negativo, o trabalho tem mostrado que "conseguimos bloquear o crescimento das células tumorais" quando são incubadas com o extracto da folha do cardo, disse.

Aquele tipo de cancro da mama é pouco frequente, mas quase 100% dos casos são fatais, já que as terapias existentes são "pouco eficientes", disse a especialista, referindo que a equipa está também a trabalhar com um modelo de um tipo de cancro do fígado, o hepatocarcinoma humano, também fatal.

A responsável explicou que o extracto da folha do cardo parece ser mais eficaz no tipo de cancro da mama do que no do fígado, mas neste "também tem actividade e os resultados também são muito promissores".

"Se calhar estamos a lidar com um composto ou vários compostos que têm propriedades anti-tumorais, mais do que propriedades anti-tumorais específicas do cancro da mama", admitiu, frisando que as respostas podem ser esclarecidas com ensaios 'in vivo' em ratinhos.

O extracto da folha "consegue bloquear e reduzir muito significativamente a proliferação das células tumorais", mas, antes de avançar para eventuais ensaios "in vivo", a equipa tem que percorrer vários passos.

A equipa está a iniciar a identificação e a caracterização química dos compostos do extracto da folha do cardo, para saber qual é o composto ou quais são os compostos com potencial anti-tumoral, disse, frisando que talvez "não se trata de um composto, mas de uma sinergia entre compostos".

Por outro lado, a equipa vai tentar perceber se o extracto "consegue influenciar a mobilidade das células tumorais", porque um tumor tem o "poder" de desenvolver metástases.

A evolução da investigação, financiada por fundos comunitários, vai depender de financiamento, mas, se continuar ao ritmo actual, dentro de quatro a cinco anos a equipa deverá ter informação suficiente para avançar com os ensaios 'in vivo' ou já terá desistido, se tiver percebido que o extracto não tem actividade que justifique tais ensaios, estimou.


in JN online, 03-10-2011

domingo, 2 de outubro de 2011

Doença da Gota (ácido úrico elevado no sangue)

O que é?

A gota úrica é uma síndrome clínica causada por uma resposta inflamatória a cristais de monourato de sódio (MUS), que ocorre em pessoas com níveis elevados de ácido úrico. Existem formas agudas e crónicas. As formas agudas surgem como crises súbitas e autolimitadas de artrite (tumefacção, rubor, dor e calor de uma articulação) às quais chamamos artrite gotosa aguda, enquanto as formas crónicas resultam na deposição de agregados de cristais de MUS sob a forma de tofos intra e periarticulares com progressiva destruição articular. A esta forma crónica de gota chamamos gota tofácea crónica. Para além das manifestações articulares a gota úrica apresenta manifestações renais (litíase renal e insuficiência renal) e metabólicas (hipertensão arterial, hipertrigliceridemia). Os doentes são  frequentemente obesos, com elevados consumos de álcool e com algum grau de insulinorresistência.

A doença foi identificada primeiramente numa múmia egípcia nos tempos da Babilónia, sendo descrita inicialmente em trabalhos de Hipócrates. A tendência familiar da doença foi mencionada por Seneca no sec.I DC e o primeiro tofo foi descrito por Galeno no sec. III DC. O termo “gota” deriva do latim gutta (sec. XIII DC) e baseia-se na crença de que um veneno caía gota a gota sobre a articulação. Mas só no século XVII (Van Leeuwenhoek, 1679), com o aparecimento do microscópio óptico, se identificaram os cristais de monourato de sódio e posteriormente o seu papel na causalidade da doença. Em  1683 (Sydenham) foi descrita uma crise aguda de gota; em 1776 (Scheele) foi descoberto o ácido úrico e em 1859 (Garrod) mostrou-se que estes doentes tinham níveis elevados de ácido úrico no sangue. A primeira descrição radiológica de gota aconteceu em 1896 (Huber) e a presença de cristais de MUS no líquido intraarticular (líquido sinovial) foi comprovada já no sec. XX, confirmando o seu papel patogénico.


Quem corre o risco de sofrer esta doença?

A gota úrica é mais frequente no género masculino e tem início habitualmente entre os 40 e os 60 anos. O doente gotoso é tendencialmente o homem obeso com consumo regular e abusivo de álcool. É nestes doentes que se verificam os valores mais elevados de ácido úrico no sangue (hiperuricémia). Por isso na idade média era considerada a doença dos ricos, sendo mais frequente na nobreza, onde os excessos alimentares contribuíam para a patogénese da doença. Pode estar presente uma história familiar de gota. No sexo feminino a crise de gota é mais frequente na mulher de meia idade sob terapêutica com diuréticos e com consumo abusivo de álcool. Em ambos os sexos, a obesidade, a hipertensão arterial, a hipertrigliceridemia e a insuficiência renal aumentam o risco de aparecimento de gota. O aparecimento desta doença no jovem está muitas vezes associada a alterações genéticas na vias enzimáticas de metabolização do ácido úrico.


Qual a causa?

A gota úrica resulta do aumento de ácido úrico no sangue (hiperuricemia) com posterior acumulação de cristais de MUS no rim e nas articulações. Considera-se hiperuricémia valores de ácido úrico no sangue superiores a 6,8mg/dl.

Os níveis de ácido úrico no sangue variam com a idade, o sexo, o peso, a prática de exercício físico, diminuição da função renal, consumo excessivo de bebidas alcoólicas (principalmente as bebidas destiladas) e com alguns medicamentos (diuréticos e salicilatos). Apresenta ainda flutuações diárias e sazonais.

A elevação destes valores no sangue resulta de pelo menos um dos seguintes mecanismos:  produção excessiva de ácido úrico ou diminuição da excreção renal do mesmo. O aumento de produção de ácido úrico pode ser o resultado de excesso de calorias (carnes vermelhas, marisco, cerveja, fígado, extractos de leveduras, carbohidratos), doenças em que ocorre uma morte celular maciça (tumores, psoríase, infecções graves, enfarte agudo do miocárdio, traumatismo, cirurgia), fármacos que levam a morte celular maciça (quimioterapia), ou defeito enzimático genético. A diminuição da eliminação renal de ácido úrico pode ser o resultado da acção de alguns medicamentos (diuréticos, salicilatos em baixas doses), de doença renal ou de um defeito enzimático genético. Condições como a diabetes mellitus, a hiperlipidemia, o hiperparatoroidismo, o hipotiroidismo, a obesidade e a hipertensão arterial podem cursar com hiperuricémia.


Quais são os sintomas mais comuns?

A gota úrica tem 3 fases clínicas:

A artrite gotosa aguda:  habitualmente surge com inflamação de apenas uma articulação. O doente refere dor articular muito intensa com sinais inflamatórios exuberantes (calor, rubor e tumefacção), com início frequentemente durante a noite, acordando-o, enquanto de dia impossibilita a deambulação. As articulações dos membros inferiores são as mais frequentemente atingidas, nomeadamente a do primeiro dedo do pé ( 1ª metatarsofalângica), numa crise classicamente conhecida por podagra. Seguem-se, em menor frequência, as articulações tíbio-társicas, os joelhos, os punhos, os dedos e os cotovelos. Os ombros raramente são envolvidos. Quando o pé não é atingido no primeiro episódio é muito provável que seja nos subsequentes. Ainda não foi encontrada explicação científica para a maior susceptibilidade do pé como alvo das crises agudas. As bolsas serosas adjacentes às articulações inflamadas também podem ser sede de inflamação aguda, como a olecrâneana no cotovelo ou a pré-rotuliana no joelho. A crise de gota resolve-se espontaneamente após 5 a 7 dias do seu início.

O período intercrítico: o doente fica sem sintomas, após uma crise aguda, até novo episódio.

Agota tofácea crónica: surge em doentes com níveis elevados de ácido úrico não tratado durante anos. Caracteriza-se pela presença de tofos gotosos, isto é, a acumulação de depósitos de monourato de sódio intraarticulares (com a mesma localização das crises agudas), que a longo prazo contribuem para a formação de lesões ósseas (erosões). Os tofos são classicamente encontrados nos pavilhões auriculares, nas bolsas serosas, no antebraço, no tendão de Aquiles, nos dedos das mãos ou dos pés. Por vezes pode haver ulceração destes tofos, com a saída dos cristais de MUS sob a forma de um conteúdo líquido leitoso.


O que acontece ao longo da evolução da doença?

O excesso mantido e não corrigido de ácido úrico no sangue, contribui para sucessivas crises agudas de gota com sintomas que deixam de ser intermitentes para estarem continuamente presentes. O período intercrítico assintomático encurta, prolongando-se os episódios de artrite aguda com formação de tofos gotosos intra e periarticulares. As articulações atingidas adquirem deformações características com perda de mobilidade e função.


Como se trata?

Artrite gotosa aguda: nas crises agudas o doente deve fazer repouso com períodos de aplicação local de gelo. Durante o período agudo da doença deve ser feita medicação com anti-inflamatórios e/ou colchicina. No doente idoso com insuficiência renal os corticóides são a alternativa.

Período intercrítico/gota tofácea crónica: o tratamento da gota consiste no tratamento da hiperuricemia, com o objectivo de manter valores de ácido úrico no sangue inferiores a 6 mg/dl. Deve ser feita a educação alimentar dos doentes em relação aos alimentos ricos em ácido úrico que devem ser evitados (marisco, carnes jovens, leguminosas, cerveja, vinhos verdes e bebidas brancas). O médico assistente sempre que possível deve reajustar a terapêutica de forma a evitar os medicamentos que contribuem para a hiperuricémia (azatioprina, diuréticos e pirazinamida), e sempre que possível substitui-los por outros com acção semelhante.

Deve ser feito o rastreio e o controlo das condições associadas à hiperuricémia: presença de litíase renal, hipertensão arterial (HTA), obesidade, dislipidemia e diabetes mellitus.

Em Portugal o tratamento da hiperuricémia é feito com alopurinol, havendo no entanto critérios para o início da terapêutica hipouricemiante (número de crises agudas, valor de hiperuricémia, presença de factores reversíveis e presença de tofos). O início da terapêutica com alopurinol é acompanhado de um anti-inflamatório para evitar que a descida dos valores de ácido úrico (que se encontram em equilíbrio no sangue) possa precipitar uma crise aguda de gota. A alergia ao alopurinol, embora rara, quando presente é grave. Geralmente ocorre após cerca de 3 semanas de tratamento. Nos doentes alérgicos podemos tentar uma dessensibilização ao fármaco (com doses mínimas) ou utilizar outros medicamentos direccionados para o tratamento de outras doenças presentes, e que apresentam simultaneamente propriedades hipouricemiantes (como o losartaan para o tratamento da HTA e o fenofibrato para o tratamento da dislipidemia). Salientam-se como outros efeitos adversos reportados em doentes sob tratamento com alopurinol a intolerância gastrointestinal, que pode ser minimizada com a toma à refeição.


Lutar contra a doença

A gota é uma doença crónica que exige um controlo dos sintomas e dos factores de risco. É importante o tratamento precoce e efectivo das crises agudas, a correcção dos valores de hiperuricémia com controlo dos factores de risco e com medicação adequada, previlegiando valores de uricémia inferiores a 6mg/dL. A educação do doente é essencial para a adopção de comportamentos saudáveis com boa adesão à terapêutica, de forma a evitar complicações a longo prazo.


Síntese

A gota úrica é uma doença sistémica que resulta do aumento do ácido úrico no sangue. Envolve o sistema musculoesquelético sob a forma de artrite aguda e gota tofácea crónica. As crises agudas caracterizam-se por episódios de dor intensa autolimitados com duração de 5-7 dias. Após o primeiro episódio segue-se um período assintomático intercrítico de duração variável e que pode ser encurtado por situações que aumentem a uricémia. Após a segunda crise está indicado o tratamento hipouricemiante com alopurinol em doses baixas, com vigilância dos efeitos adversos. A manutenção de hiperuricémia não tratada evolui para a fase de gota tofácea crónica. No tratamento da gota é importante o controlo dos factores de risco metabólico como a obesidade, a HTA, a dislipidemia e a diabetes mellitus, assim como a educação do doente para a adesão à terapêutica e para aderir a estilos de vida saudáveis. As principais complicações a longo prazo são a deformação articular com perda de função, a insuficiência renal e o aumento de risco cardiovascular. 


sábado, 1 de outubro de 2011

Especialista defende prevenção de doenças mentais no local de trabalho

«Grandes empresas europeias e norte-americanas estão a começar a investir na prevenção das doenças mentais no local de trabalho, exemplo que devia ser seguido em Portugal, defende o psiquiatra Ricardo Gusmão.

Coordenador em Portugal da Aliança Europeia Contra a Depressão, o especialista conta que multinacionais em Inglaterra, Alemanha ou Estados Unidos têm já programas de prevenção da doença mental, com retornos de produtividade evidentes.

Em Portugal, segundo país do mundo com maior taxa de perturbações mentais, as empresas deviam começar a fazer o mesmo, diz o médico em entrevista à agência Lusa a propósito do Dia Europeu da Depressão, que se assinala este sábado.

"Não vemos as empresas portuguesas a investirem neste tipo de prevenção, quando as doenças mentais contribuem para elevado absentismo e perda de produtividade", argumenta o psiquiatra e professor na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão é das maiores causas de incapacidade em todo o mundo. Em Portugal, dados da Caixa Geral de Aposentação colocam-na também no topo dos motivos de aposentação precoce.

Ter psicólogos nos recursos humanos das empresas vocacionados para despistar problemas mentais é uma das medidas que Ricardo Gusmão defende, a par de outras mais simples, como ter uma creche no local de trabalho.

"As empresas que se preocupam com a saúde mental dos colaboradores têm produtividade muito superior às outras e os custos são relativamente marginais", sustenta.

Os dados internacionais indicam que a depressão é uma das doenças psiquiátricas mais frequentes, que afectará uma em cada cinco pessoas em algum momento das suas vidas.

A OMS determinou que a depressão é a quarta maior causa de anos de vida com saúde perdidos em todo o mundo em 1990. Dez anos depois já era a terceira causa e em 2020 estima-se que seja a segunda.»


in JN online, 01-10-2011